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sábado, 1 de setembro de 2018

ARTISTA DE MOSSORÓ FAZ PARCERIA EM RAP COM ARTISTA DE MOÇAMBIQUE E INTERLIGA AS DUAS REALIDADES

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O rapentista Mossoró lançou nesta semana a música “Brazambique”. Essa música é uma parceria com o rapper moçambicano Shot B, um dos pioneiros do hip hop do seu país, com uma carreira iniciada desde os 1990. Mossoró é o nome artístico de Carlos Guerra Júnior, pesquisador e jornalista que nasceu no Rio Grande do Norte, mas vive em Portugal. A música foi produzida durante a estadia do artista mossoroense em Maputo, a capital de Moçambique.

A música busca mostrar uma mistura cultural entre Brasil e Moçambique, dois países que foram colonizados por Portugal. Política, música, poesia, línguas e geografia são confrontadas nessa letra de rap, em uma sintonia enfatizada no refrão, em que Shot B e Mossoró colocam que “O que um não disse, o outro disse”.

O passado e o presente também se encontram, porque os dois artistas entendem que o rap de intervenção social continua o legado das pessoas que se destacaram na luta contra a opressão no passado. Nas rimas interpretadas por Shot B e Mossoró, revolucionárias como Dandara (líder na luta contra a escravidão no Brasil), e Josina Machel (líder na luta contra o colonialismo em Moçambique) se transformam nas influências das mensagens atuais interpretadas por rappers como a moçambicana Iveth Mafundza e a angolana Girinha.  Além disso, líderes políticos como o peregrino Antônio Conselheiro e o político revolucionário Carlos Marighella se transformam em rimas nas vozes de GOG, Renan Inquérito ou Facção Central.

As dinâmicas culturais coincidentes de bairros populares também são lembradas na música, tanto nas “barras” interpretadas por Mossoró, como Shot B. Relembrando os versos de Racionais que coloca “Periferia é periferia em qualquer lugar”, o artista mossoroense cita os bairros Laulane em Maputo e Bom Jardim em Mossoró, como semelhantes. Já Shot B relembra que a arquitetura urbana da cidade de Maputo foi planejada para expulsar os nativos do centro. Com isso, os colonizadores ocuparam o centro, onde foi construída uma cidade planejada e de cimento, enquanto os moçambicanos foram afastados para a parte de caniço, que não encontrava uma estrutura urbana. Entretanto, Shot B enfatiza que esses espaços periféricos são os corredores de artes da cidade, onde viveram artistas como os poetas José Craveirinha e Noêmia de Sousa, algumas das principais referências da literatura local e que tiveram papel importante na luta contra a colonização

A questão da luta pela liberdade de expressão é enfatizada nas mortes do jornalista Carlos Cardoso, que investigava casos de corrupção no Banco Comercial de Moçambique e foi morto no ano 2000, bem como a ativista negra Marielle Franco foi assassinada em março de 2018, por denunciar os maltratos das milícias no Rio de Janeiro.

Os artistas também enfatizam a necessidade de se construir uma nova Casa de Estudantes de Império, espaço que foi estratégico na luta contra a colonização portuguesa, pois viviam os alunos de destaque das colônias africanas em Portugal. Com isso, eles conseguiam juntos pensar em estratégias contra a colonização. A ideia atual seria unir as mentes de países subdesenvolvidos e construir estratégias de emancipação.

A cidade de Mossoró também é lembrada na música, tanto em homenagem ao Motim das Mulheres, as críticas a administração atual da Prefeitura e a referência ao poeta local Antônio Francisco, como alguém que continua o legado de Luís Gonzaga. Outros nomes importantes para o ativismo político, que não fazem parte do Brasil ou Moçambique, também são lembrados sempre em uma questão de complementaridade, em que pessoas do presente continuam o legado e dizem o que as suas referências não disseram. Dessa forma, são lembrados nomes como Amilcar Cabral (Cabo Verde/Guiné Bissau), Luaty Beirão, MCK e Flagelo Urbano (Angola), Rosa Luxemburgo (Polônia), Frantz Fanon (Argélia) e LBC Soldjah (Cabo Verde), entre tantos outros.

“É o hip hop renovando e reconstruindo a história” (Mossoró)
“Acima de tudo, o que cada um desses intelectuais disse ou não disse é o que nós somos hoje” (Shot B).

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